quarta-feira, 1 de setembro de 2010


Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir


COM LICENÇA POÉTICA
ADÉLIA PRADO

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,

Não minto a ponto de me matar


Acho tudo que é verdadeiro de alma
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a minha sina.
Inauguro linhagens, fundo, reinos e opiniões
— dor pra mim não é amargura, é essencial
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade, sempre é de alegria,

Mulher assim é maldição pra homem.
Sob outro prisma vou marcando minha presença.

Eu sou.